domingo, 27 de maio de 2012

Por que não Dona Maria das Graças?


André Luiz Pinto
Elio Gaspari, publicou hoje no O Globo o texto do que seria uma carta do engenheiro militar português José Fernandes Pinto Alpoim (1700-1765), que teve no importante colaboração para a arquitetura colonial carioca. É atribuido ao engenheiro Alpoim o claustro do Mosterio de São Bento, o conjunto do Arco do Teles, o convento da Ajuda, o Paço Imperial e o Aqueduto da Carioca mais conhecido como os Arcos da Lapa.
Gaspari, através de Alpoim, sugere uma postura propositiva para a polêmica da compra do terreno do quartel da PM pela Petrobrás.
Levanta uma importante discussão que envolve o "hiato urbano" existente na esplanada de Santo Antônio, convoca a sociedade para discutir e propor um novo futuro para uma área importantíssima da cidade através de concurso público.
Ratifico a sugestão, psicografada, do nobre engenheiro que tanto colaborou com a cidade do Rio de Janeiro.
Dona Maria das Graças, por que não um concurso público?

*Publicado no Jornal " O GLOBO" e 27 de Maio de 2012

Eu desenhei os Arcos da Lapa, tenha piedade, conserte o desastre do desmonte do morro de Santo Antonio

DONA MARIA DAS GRAÇAS, 

Eu e a Lota Macedo Soares ficamos na maior felicidade quando soubemos que a senhora comprará para a Petrobras o terreno onde está o quartel-general da Polícia Militar do Rio de Janeiro, na rua dos Barbonos, que hoje chamam Evaristo da Veiga. Há mais de 250 anos, eu desenhei a estrutura do aqueduto que abasteceu o centro do Rio, os Arcos da Lapa. 

Ele ia do morro de Santa Teresa ao de Santo Antonio. Foi uma obra sem maiores pretensões que hoje é uma das belezas da cidade. No governo do senhor Kubitschek, desmontaram parte de um dos morros, atirando a terra na orla que ia da ponta do Calabouço a Botafogo. Eu vi como dona Lota transformou esse aterro na joia que é. Não fosse ela, aquilo viraria um carrascal cortado por pistas de carros. 

Pois enquanto os burocratas foram dobrados por Lota em relação ao despejo da terra, prevaleceram na urbanização da área onde estivera o morro. Fizeram uma avenida chamada Chile, ligando o largo da Carioca à rua que tem o nome do senhor Marquês do Lavradio. 

Um quilômetro de desastre e desconforto, frio na aparência, infernal na temperatura, sem árvores que nos deem sombra. Agravou-se a ofensa com a construção de edifícios recuados, hostis ao pedestre. 
Isso para não falar do prédio da Petrobras, muito feinho, que passa por moderno porque fica ao lado da catedral mais horrível destas terras de Nosso Senhor. 

Não há no Rio outra avenida desse tamanho onde não se possa parar para um café ou, no caso dessa trilha de camelos, beber um copo d'água. 

O terreno de 13.500 metros quadrados do quartel que a senhora quer comprar por R$ 336 milhões vai dos fundos da Petrobras à rua Evaristo da Veiga. Faça um concurso internacional de arquitetura, não dê o projeto a amigos da casa. Mais que isso, provoque o remanejamento do tráfego dos pedestres. 
Se a Petrobras abrir um espaço na Evaristo da Veiga, criará um acesso aprazível à avenida Chile para quem vem do muito lindo Passeio Público. Quem sabe a senhora oferece uma ajuda ao arcebispo d. Orani Tempesta para que ele cristianize a área adjacente à catedral. Juntos, vosmecês farão um jardim que ocupará quase todo o lado da avenida onde estão vossos prédios. 

O Burle Marx, que cuidou da paisagem do aterro, assegura que ali se pode fazer uma das mais belas praças do velho centro. A Petrobras tem 17 jardins suspensos. Arborize o chão dos cariocas, a senhora não perderá área útil para sua torre. 

Do seu vassalo, 

José Fernandes Pinto Alpoim, engenheiro militar 

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