domingo, 31 de outubro de 2010

O Centro e seus vazios (III)


Eduardo Cotrim
A natureza feminina das cidades emerge, elas se tornam mais completas, quando distinguem, nitidamente, os lugares coletivos oníricos, dos pragmáticos da funcionalidade urbana.


Diferente dos lugares de uso, como os corredores de tráfego, não há modelos para os lugares que privilegiam o usufruto, ainda que no reino das superfícies públicas, os espaços urbanizados do usufruto sejam historicamente vazios.
Os vazios suportam interações conscientes e não conscientes, já que acolhem e promovem os usufrutos estéticos, ambientais, funcionais e os dos seus significados.
Entre os personagens dos vazios urbanos, as praças já seriam suficientes para merecer uma classificação com nomes diferenciados, pela variedade de suas expressões, personalidades e modos como são apropriadas.
O Centro do Rio, como o de tantas outras cidades, é pontilhado por praças e por inúmeros vazios – parques, pequenos largos, becos, revelados pelos volumes construídos. Os vazios frequentemente não predominam em superfície e se comportam como elementos promovidos pelo todo ao redor.

Em algumas outras culturas ocorre o vazio predominante, como nas cidades dos Waimiri Atroari e dos Yanomamis, embora estes distribuam o cheio de forma antagônica. Entre novaiorquinos e cariocas, o antagonismo se dá na distribuição do vazio.

As cidades que têm o não-cheio distribuído em praças, em largos, em becos de expressões variadas, que, portanto, agregam maior riqueza morfológica ou têm mais chance de agregá-la, têm também a vantagem de possuir os vazios como elementos extras de identidade do espaço urbano.
O Centro do Rio é assim, mas ainda há algo a ser feito - pelos urbanistas, arquitetos e ambientalistas, principalmente, para que se restabeleça, de forma plena, a identidade de gênero da Cidade - o nosso centro - para o resgate das potencialidades de usufruto, consciente ou involuntário, dos vazios, pelos cidadãos: entender e tratar nossas praças, largos e becos, observá-los, pesquisá-los, iluminá-los, interferir em seus interiores e entornos contíguos, os físicos e os de posturas, enfim, o que os bons projetos costumam fazer.

Imagens na ordem da apresentação:
Largo de São Francisco de Paula, Rio de Janeiro
Praça do Vaticano
Praça Imam, Esfahan
Rua de Havana
Escadaria Selarón, Rio de Janeiro
Aldeia Waimiri Atroari, Amazonas
Aldeia Yanomami, Amazonas
Nova York
Rio de Janeiro


sábado, 23 de outubro de 2010

Concurso Porto Olímpico

CONCURSO NACIONAL DE PROJETOS DE ARQUITETURA
INSTALAÇÕES PARA AS OLIMPÍADAS 2016 NA REGIÃO PORTUÁRIA
LEGADO: RESIDÊNCIAS, CENTRO DE CONVENÇÕES E HOTEL


Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro
Instituto de Arquitetos do Brasil, RJ


Lançamento: 05/11, 15h.
Palácio da Cidade - Rua São Clemente, 360 - Botafogo.
Inscrições: de 05/11 a 10/12 de 2010
Informações: IAB/RJ (21) 2557-4480 - Rua do Pinheiro, 10 - Flamengo.


www.iabrj.org.br/concursoportoolimpico


Leia também:
ARCOWEB: Porto Olímpico - Com museus, concursos e investimentos bilionários, a arquitetura deve redesenhar a zona portuária carioca até as Olimpíadas 2016

A sustentabilidade entrou na agenda

*Artigo publicado originalmente no jornal O Globo de 21/10/2010
Sérgio Magalhães
O respeito ao meio ambiente associado à noção de desenvolvimento sustentável, marca da Rio-92, chegou para ficar. É atitude solidária em relação ao planeta e à própria humanidade. Agora mesmo, nas eleições de 2010, foi pano de fundo de boa parte das opções de voto. Em análise a propósito desse pleito, a jornalista Míriam Leitão considera que “há uma compreensão maior de que a sustentabilidade não é uma palavra oca, mas uma nova forma de estruturar o projeto econômico”.
A sociedade se mobiliza tentando promover as bases de um novo estágio civilizatório — menos predador, com menos pobreza e desigualdade. Esse conjunto adquire valores éticos para além das objetividades que lhe são inerentes — e é provável que se constitua em diretriz para o século XXI.
Embora tais conceitos sejam portadores de significados suficientemente fortes a justificarem a autonomia que lhes reconhecemos, é desejável situá-los no espaço em que se manifestam com densidade. Assim, sustentabilidade, pobreza e desigualdade precisam ser referenciadas às cidades.
A humanidade já vive majoritariamente em cidades. No Brasil, é quase a totalidade (85%) dos brasileiros que mora urbanamente. Contudo, podemos dizer que as cidades estão sendo compreendidas nessa dimensão renovadora da política e da ética contemporâneas? Estão sendo tratadas em consonância com a sustentabilidade? Com o papel a desempenharem na redução da pobreza e da desigualdade?
É na cidade que se encontram a raiz e a promessa daquele novo estágio civilizatório.
Fontes de desequilíbrio ambiental e social se expressam no urbano em duas importantes funções: a habitacional e a mobilidade.
A ocupação extensiva do território, em baixa densidade e com carência de saneamento, multiplica fatores predatórios do meio ambiente e amplia a desigualdade entre parcelas da sociedade. A desigualdade de renda é potencializada por moradias sem infraestrutura adequada, insalubres, mal localizadas em relação ao trabalho e às oportunidades de desenvolvimento pessoal. A histórica falta de crédito habitacional consome esforços familiares na promoção do domicílio que poderiam ser canalizados para a educação e a saúde. Assim, reforça a desigualdade em gerações. Mesmo com os novos incentivos à moradia, o Brasil continua produzindo cerca de 80% dos novos domicílios urbanos sem qualquer financiamento.
Está na mobilidade urbana outro dos fatores de desequilíbrio tanto ambiental quanto social. A opção que o país fez pelo modo rodoviário, lá nos anos sessenta, continua pujante. Está na mobilidade urbana outro dos fatores de desequilíbrio tanto ambiental quanto social. A opção que o país fez pelo modo rodoviário, lá nos anos sessenta, continua pujante. Ela é poluidora; dilapidadora de território; mas é sobretudo gastadora de energias sociais. No interesse do desenvolvimento sustentável e da redução da pobreza e da desigualdade, há que se priorizar o transporte de massa. Os metrôs e os trens urbanos precisam constituir-se em redes metropolitanas.
Há uma terceira fonte em contramão: o isolamento modernista entre funções urbanas (ou se mora, ou se trabalha, ou se recreia), que afasta trabalho e residência, multiplica percursos, promove guetos e enfraquece a interação social. Setores urbanos onde o mínimo deslocamento exige motorização é modelo condenado por sua insustentabilidade.
A cidade contemporânea está a rever essa matriz predadora, tal como ocorre na experiência que está sendo promovida em Londres, para os Jogos de 2012. Cada novo edifício precisa atender aos requisitos de sustentabilidade e o conjunto se caracteriza por recuperar uma área degradada, quase central, em estratégia de interesse metropolitano. Lá, 75% dos recursos são necessariamente investidos na promoção de um legado social e urbanisticamente consistente.
Felizmente, no Brasil já se vão constituindo movimentos político-sociais para construção de uma agenda pela sustentabilidade em suas amplas possibilidades. Daqui a dois anos, festejaremos 20 anos da Conferência da ONU para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. A Rio+20 será outra oportunidade para o país assumir compromissos em consonância com o desenvolvimento sustentável — vale dizer, com o futuro das cidades. E o Rio de Janeiro, por seu protagonismo em 1992, por certo quererá estar à frente nessa agenda.
Talvez queiramos assumir o desafio de universalizar o saneamento, despoluir a Baía de Guanabara, estancar a sangria da expansão predadora e redirecionar o transporte público. E, se prosseguirmos na urbanização dos assentamentos informais, trazendo-os à legalidade, protegidos todos os territórios pela Constituição brasileira, sem vez à violência armada, estaremos efetivamente adentrando o estágio civilizatório ao qual desejamos que o Brasil esteja destinado. Será o nosso desenho do século.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Jorge

Sérgio Magalhães
Fui colega do Czajkowski na Faculdade de Arquitetura da UFRJ, como professor, e no governo municipal do Rio de Janeiro, ambos servidores.
Sou testemunha da enorme capacidade dele em fazer bem feito tudo a que se propunha. Primoroso na busca da qualidade,
não se contentava com menos do que o máximo. E nessa busca, deixou-nos um inumerável acervo de obras publicadas como crítico, como curador e como editor.
Jorge teve o grande talento de selecionar colaboradores de mesmo nível. Cada escolha era a certeza da excepcionalidade.
Discreto, doente, recolheu-se. Não quiz velório, apenas uma missa na Igreja Polonesa.
Jorge Czajkowski deixa grande saudade.
Roberto Conduru escreveu no portal Vitruvius uma nota biográfica que gostaria de recomendar.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Underserved communities no MoMA


Eduardo Cotrim
Small Scale Big Change: New Architectures of Social Engagement permanece no Museu de Arte Moderna de NY até fevereiro de 2011. A exposição visita onze projetos dirigidos às necessidades locais de algumas underserved communities, termo usado na apresentação do evento, que identifica bem o sujeito das proposições, vindas dos cinco continentes, expressas em exemplos construídos.
A exposição também resgata as histórias dos caminhos percorridos pelos autores para a implantação de cada uma das proposições. Essas informações estão disponíveis a qualquer momento. Seguem então, de um modo pragmático, os trabalhos apresentados, os arquitetos, as cidades de destino dos projetos e seus objetos:



Diébédo Francis Kéré, para Gando, Burkina Faso, escola primária – Primary School


Anna Heringer, para Rudrapur, Bangladesh, escola – Meti-Handmade School;


Hashim Sarkis, para Tyre, Líbano, moradias para pescadores – Housing for the Fishermen of Tyre;





Michael Maltzan Architecture, para Los Ângeles, California, USA, centro de ensino de artes – Inner-City Arts.






Alejandro Aravena – Elemental, para Iquique, Chile, habitações de 30m2 ampliáveis com custo unitário de US$ 7.500,00 – Quinta Monroy Housing;






Frédéric Druot, Anne Lacaton e Jean Philippr Vassal para Paris, França – Intervenção em edifício alto da década de 60/70 - Transformation of Tour Bois-le-Prêtre;









Jorge Mario Jáuregui – Metrópolis Projetos Urbanos, para Rio de Janeiro, Brasil – Intervenção urbana no complexo de Manguinhos – Manguinnhos Complex;





Noero Wolff Architects, para Port Elizabeth, África do Sul, museu da história do Apartheid – Red Location Museum of Struggle;



Rural Studio – Auburn University, para Newber, Alabama, USA, centro de pesquisa e treinamento para aplicação em projetos habitacionais de baixo custo - $ 20 K - House VIII.




Estudio Teddy Cruz, para San Ysidro, Califórnia, USA implantacão de novas habitações, com programa de assistência às crianças em bairro alta densidade – Casa Familiar / Living Rooms at the Border and Senior Housing with Childcare ;


Urban-Think Tank, para Caracas, Venezuela. Sistema de transporte por cabos em comunidade carente - Metro Cable.


É verdade, aqui e lá fora, que o mundo está hoje mais observador e sensível aos resultados da intervenção do arquiteto - nos territórios destituídos de quaisquer possibilidades de desenvolvimento social, sobretudo, mas também naqueles desenvolvidos, que possuem lá suas lacunas. Sinal de que a Arquitetura passa a competir com a redação das políticas públicas? Fica a pergunta, mas há um fato: no século XXI, os recursos e as vontades políticas têm resultado cada vez mais de projetos, de desenhos. Assim pode ser interpretada a lição do MoMA.

Fotos de Eduardo Cotrim, 10/10/2010.


sábado, 16 de outubro de 2010

Morar Carioca

*Artigo publicado originalmente no jornal O Globo de 15/10/2010
Eduardo Paes e Sérgio Magalhães
Em julho lançamos uma meta: todas as favelas do Rio urbanizadas até 2020 através do programa Morar Carioca.Trata-se de um objetivo ousado que se compõe ao legado social dos grandes eventos que a cidade sediará, como a Olimpíada de 2016.
Um dos primeiros passos desse projeto está sendo dado agora com o lançamento do concurso público, promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil-RJ, com o objetivo de selecionar as equipes que elaborarão os projetos de urbanização de 260 das 378 favelas integrantes do programa.
No âmbito do Morar Carioca, urbanizar é tornar cidade.
A história do Rio, há mais de cem anos, é indissociável das favelas. No começo, foram consideradas efêmeras, que o desenvolvimento do país equacionaria. Lei de 1937 proibiu que o mapa da cidade incluísse suas favelas.
Quando ultrapassavam as centenas, passou-se à política de remoção compulsória. A reação social a inviabilizou. Não sem antes produzir grandes guetos localizados nas fraldas da cidade e que, após quarenta anos, ainda são lugares isolados e de muita pobreza.
A revisão política dos anos 1980 reconheceu as favelas como realidade social e urbanística. Implantaram-se as primeiras redes sanitárias.
Em meados da década de 90, a partir de uma revisão doutrinária, a prefeitura do Rio inicia o programa Favela-Bairro, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da Caixa Econômica Federal.
O Morar Carioca aproveita as diversas experiências das últimas décadas, seus erros, acertos e desvios de rumo, buscando ampliá-las, no objetivo da superação plena desse enorme desafio de integração social e urbanística.
O convênio da prefeitura com o IAB-RJ também prevê promover a reflexão sobre essa experiência. Desde que o Favela-Bairro começou, as condições e exigências por certo se modificaram. Por exemplo, a disponibilidade de financiamento para construção de moradia popular não era tão ampla como agora. Na perspectiva de 2020, como proceder para que as favelas cheguem lá plenamente inseridas na cidade?
Refletir sobre a experiência, medir vitórias e derrotas, compreender as circunstâncias, tudo isso poderá resultar em revisão dos parâmetros a serem atendidos por projetos e obras.
Quais as novas exigências quanto ao sistema viário? Quanto às redes públicas? O que especificar para conservação e manutenção econômicas? Quais equipamentos sociais necessários? Onde localizá-los?
A reflexão por certo incluirá o tema das moradias precárias e do adensamento exagerado, onde há danos sanitários e ambientais. Melhorar a casa, com assistência e crédito, há de ser uma demanda importante nos próximos anos.
O desadensamento implicará a construção de novas moradias. Aproveitar vazios urbanos e edificações ociosas, como há na Zona Norte suburbana, é caminho possível. Integrar as favelas à cidade é também ampliar a cidade às favelas. Ampliar através de serviços públicos necessários à vida urbana de hoje.
Isso significa novos custos financeiros para a administração pública.Novos custos a serem cotejados aos prejuízos sociais, ambientais, econômicos e políticos hoje existentes.
Assim, a sustentabilidade dos investimentos estará suportada justamente na presença permanente dos serviços públicos na cidade ampliada. Todos eles, inclusive o de controle urbanístico e o de segurança pública. Logo, na garantia de não expansão da ocupação e da plena recuperação dos territórios para a legalidade.
Essa garantia talvez seja o maior dos desafios da cidade, que o Rio seguramente saberá enfrentar, de modo que, a partir de 2020, possa percorrer o século 21 no caminho da democratização social.

Veja também:
Prefeitura e IAB lançam concurso que vai selecionar projetos de urbanização das favelas do Rio

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O economista americano Paul Romer concedeu uma polêmica entrevista para Leandra Peres e o jornal Valor defendendo a criação de cidades onde "tudo funcionaria na direção do desenvolvimento - sob governo estrangeiro".

E foi para ela, a convite do Cidade Inteira, que o nosso colega arquiteto e urbanista Manoel Ribeiro escreveu as seguintes considerações.

Sai do armário, Romer!
Manoel Ribeiro*
Especialmente para o CI
Lendo a entrevista encaminhada pelo Sérgio e aceitando o seu desafio, encaminho algumas considerações.

Em primeiro lugar, Romer ignora o conceito clássico de soberania:

“Soberania relaciona-se a poder, autoridade suprema, independência (geralmente do Estado). É o direito exclusivo de uma autoridade suprema sobre uma área geográfica, grupo de pessoas, ou o self de um indivíduo. Soberania é o domínio sobre um território. Inclusive no que toca à gestão. Conceder autorização para instalações militares, exploração de recursos naturais, patentear a biodiversidade, exercer o poder de polícia etc, estariam entre essas atribuições."


Delegar a administração de uma cidade a outro Estado ou empresa significa abrir mão da soberania. A contratação de empresas para cuidar da aduana, como ele exemplifica, reproduz o que aconteceu no nosso País, após a independência, quando a dívida portuguesa com a casa Rotchild londrina, foi repassada ao Brasil. Nossa alfândega era controlada por um funcionário do Banco Rotchild que apropriava 20% da receita do movimento comercial, para abater a tal dívida.


No correr da entrevista, a recorrência de exemplos sobre o Haiti revela as mesmas intenções que a presença maciça de “mariners” naquele país, que teve aceitação “voluntária” do governo nacional na fragilíssima situação pós terremoto.


Para o Haiti, ter uma cidade que se transforme no "hub" de toda uma região é um absurdo, já que uma cidade desse porte num país como o Haiti, drenaria toda a energia e os recursos nacionais (e dos países vizinhos) para um só ponto do seu território. Seria um pais de uma só cidade central, provavelmente cercada de favelas “fuori muri”. A pergunta que se faz é como viveriam essas populações excedentes desse “édem” econômico e financeiro.


Quando Romer reconhece que o Haiti talvez não tenha uma democracia consolidada mas que o Brasil, com sua presença, poderia garantir um controle democrático efetivo na cidade proposta, fixando a "meta de inflação" e tomando decisões sobre a taxa de juros, ele esquece que o mercado financeiro não vem demonstrando competência para se administrar, exigindo dos estados nacionais vultosos aportes de recursos para cobrir seus erros. Como se pode propor a “financeirisação” da administração de uma cidade em território soberano? A privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos não pode prevalecer em sociedades democráticas.


Mas o clímax da cara de pau ocorre quando afirma que a ausência do voto livre não impediria as pessoas de ir para essa nova cidade. Nesse ponto Romer “saiu do armário”. O que ele quer dizer? A decisão de migrar para esse ou aquele país não a transforma numa maneira democrática e socialmente justa de viver. Talvez essa decisão revele apenas a iniqüidade de outros locais de onde esses contingentes populacionais estão fugindo.


Fã da prática chinesa de controle da “crimilalidade”, Romer ainda se supera, quando propõe que o Brasil assuma a iniciativa de criar e administrar uma dessas cidades internacionalizadas no Haiti. Caso essa idéia maluca se concretizasse, como poderíamos nos opor a idêntica proposta na Amazônia, retirando-nos todo o controle sobre a rica bio-diversidade da região?

Concluindo, o conceito de desenvolvimento utilizado por Romer é arcaico e ultrapassado. O PIB não representa uma garantia de bem estar de uma população e apenas mede o volume das transações comerciais. Crer que todos os países percorrerão o mesmo caminho na direção de melhores condições de vida para todos não é só equivocado, mas sobretudo enganador e perverso.

Estou desconfiado que esse tal de Romer, por suas posturas aéticas e falaciosas é o popular patriarca da família Simpson.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Novas velhas cidades

Sérgio Magalhães
Tinha um velho sonho de conhecer São Luiz do Maranhão, onde, dizem, fala-se o melhor português do Brasil. Seu centro histórico e seus casarões com azulejos, objeto de magnífico estudo de Dora Alcântara. Onde John Gisiger trabalhou pela preservação com desenvolvimento e conseguiu desenhar o primeiro Plano Diretor, ainda nos anos oitenta.

Mas São Luiz resolveu aderir ao velho modelo do abandono das preexistências e da valorização da novidade (da velha novidade, diga-se). O centro perde centralidades aceleradamente. As áreas novas, ocupadas a partir dos oitenta, detem os principais investimentos públicos. Como ocorre em quase todas as expansões por este Brasil afora, o protagonismo é de edifícios residenciais altos, isolados, voltados a si mesmos, fechados para a rua, que é apenas um canal para o trânsito motorizado. Avenidas, ruas e vielas construídas para o transito, apenas para o fluxo de veículos. Longa expansão em baixíssima densidade, sem chance para uma ambiência de uso coletivo.

Nada a ver com a São Luiz que fará quatrocentos anos em 2012.
Perguntei ao taxista: lá onde moram os pobres também estão sendo construídas tantas avenidas?
- Lá, não. Porque as praias estão para o lado de cá. E é onde moram os que tem renda mais alta.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Centro e seus Vazios (II)

Eduardo Cotrim
Num dado momento, vingou a idéia no Brasil de se suplantarem os centros das cidades, que têm lá suas más e boas histórias, por outros que norteariam outros significados, desde que fossem apenas os bons passados e os melhores futuros. Ficaram para os Centros um certo pretérito descalço e uma espécie de desorientação.

É possível que daqui a dez mil anos, arquiteturas coloniais e republicanas no Brasil sejam coisas idênticas, como para Millôr, em um milhão de anos não se distinguirá mais pré-história do século XXI. Bom, o certo é que tudo é dinâmico; que a história não é necessariamente uma, mas fiquemos na escala provisória de tempo da cidade que se enxerga, pois cabe aos próximos enxergarem as suas, como fizeram os antigos.

São Paulo, maior município brasileiro e o 6º do planeta, o Non ducor, duco, conduz, com sacrifício seu Centro, como o maior problema. Curral del Rei, em Minas, vê violência em seu núcleo, que em 1930 deixava de ser uma teoria urbanística para ser uma conquista humana. Morada do Sol, Araraquara, que não é capital nem nada, teve seus únicos dois únicos cinemas do Centro, Capri e Veneza, transformados em igrejas de testemunhas de qualquer coisa, que na década de 70 passavam de Oliver Twist a Sétimo Selo. Não falemos de Salvador, de Florianópolis ou de Rio Branco, mas perguntemos: para onde foram os Centros e o que fazer com eles, memórias de nossas boas e más histórias?

sábado, 2 de outubro de 2010

Há um ano...

André Luiz Pinto


Hoje está fazendo um ano que o Comitê Olímpico Internacional anunciou o Rio de Janeiro como cidade-sede dos Jogos da XXXI Olimpíada em 2016.
De lá para cá muito se discutiu aqui no Cidade Inteira, nos meios de comunicação em geral, nas universidades, nas diversas instituições interessadas e em cada canto desta Cidade Maravilhosa.
Muito foi conquistado, mas ainda faltam 6 anos para o evento e a cidade do Rio ainda pode caminhar muito mais. Pode por exemplo, aprender a lição com Londres, que promove uma aula de organização, de visão de futuro, e de respeito aos recursos financeiros coletivos.
Vamos comemorar o aniversário da escolha olímpica atuando ainda mais de forma crítica e construtiva para que possamos ter uma cidade mais democrática e renovada não só para o evento, mas para o dia a dia de todos os cariocas.
Viva o Rio!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Vamos devagar, quase parando...

Lucas Franco
Ainda em 2009, a ONG Rio Como Vamos, responsável pelo monitoramento da gestão municipal do Rio de Janeiro, publicou uma interessante pesquisa sobre transportes e o cotidiano dos cariocas.
O resultado infelizmente é o seguinte: despendemos em média quase uma hora e meia no percurso diário casa-trabalho.
Os motivos também são reconhecidos:
- É um círculo vicioso, alimentado sobretudo pela histórica falta de racionalização do transporte público. Nunca tivemos um sistema eficiente e integrado, o que resultou na proliferação do transporte irregular e na má prestação de serviços. Com isso, muita gente opta pelo carro particular, um conforto irreal, porque piora os engarrafamentos – destacou a presidente executiva do RCV, Rosiska Darcy de Oliveira em uma matéria publicada nesta semana no jornal O Globo.
É lamentável ou simplesmente lógico, que o meio mais utilizado, os ônibus comuns com 47% das respostas, também lidere o índice de reclamações.
Segundo a pesquisa, o metrô responde apenas pelo transporte de 3% dos cariocas.
Os trens, pasmem, 1% do todo.
A matéria do Globo ainda transmite esperanças de melhorias às recentes propostas dos corredores de BRTs.
Ok, parece que estamos avançando. Mas desculpem-me pelo ceticismo e ainda mais pelo trocadilho, mas pelo visto, no Rio ainda vamos mal, devagar quase parando.

Leia a primeira e a segunda parte matéria citada no Globo Online.
Leia o original