domingo, 2 de agosto de 2009

Política e a Câmara na Cinelândia

Sérgio Magalhães
Por razões que os cientistas políticos haverão de saber, nós estamos acostumados a creditar aos políticos a responsabilidade pela resolução dos problemas de todas as naturezas. Contudo, a política –aquela das instituições de representação- não está respondendo à complexidade da sociedade contemporânea. Enquanto isso, os problemas se avolumam.
Olha só o caso da Câmara de Vereadores do Rio.
Quando Pereira Passos fez sua grande obra de remodelação do Rio, a Avenida Central foi a espinha dorsal da mudança. Em um dos extremos da Avenida, implantou a representação da centralidade comercial/econômica, a Praça Mauá; na outra, implantou-se a representação política e cultural, a Cinelândia. Desde logo, com o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes; com o Clube Naval e o Clube Militar; e com o Senado. Instalada em prédio construído sob encomenda, na década de 1920, a Câmara ajudou a consolidar a Cinelândia como locus privilegiado da política carioca.
Quase a totalidade dos principais eventos políticos de massa realizados no Rio de Janeiro têm a Cinelândia como foco. E, no dia a dia, é onde se reúnem manifestantes de todas as greis e temas. Talvez seja o lugar político mais vivo da cidade.

Mas, agora, a Câmara decide se mudar da Cinelândia. Alega que não há condições adequadas para o seu trabalho nos imóveis que lhe estão disponíveis. Precisa de prédio novo, maior.

A mudança não será saudável. Para a cidade e para a política.

Para a política, porque privilegia os aspectos administrativos-burocráticos da instituição, a ponto tal que passam a se impor ao simbólico-representativo. A ser verdadeira essa alegada necessidade, que paralelo se faria com o Parlamento britânico, pai da democracia moderna, há séculos ‘estabilizado’no mesmo edifício? Que inveja ver ao vivo, pela TV, o debate entre o Primeiro Ministro e os deputados, frente a frente, em um salão de proporções modestas e austeras! (A burocracia, por certo, está lá; mas não é ela que protagoniza a política.)

A Câmara pretende ir para um terreno próximo do porto. Acha que assim ajudará a revitalizar a área portuária. Contudo, a mudança não será saudável para cidade porque enfraquece o seu principal espaço público, aquele que sediou a representação nacional por décadas, e que continua no imaginário coletivo como o lugar da política. Não faz sentido buscar-se a revitalização do Centro e trabalhar no sentido da desconstrução da sua centralidade histórica e política.
Quem, quem quer que seja, por mesquinharia, demoliu nos anos de ditadura o Palácio Monroe, sede do Senado, estará agora justificado com a ‘derrubada’ da Câmara, nos anos de democracia...
Com urgência uma agenda para a nossa cidade!

veja também: http://www.almacarioca.com.br/cinel.htm

Um comentário:

  1. Professor,

    Como entrar em contato com o senhor?

    joaopedrocalmon@gmail.com

    Att.

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