quarta-feira, 29 de julho de 2009

A geografia dos problemas de infraestrutura do Rio

Sérgio Magalhães

Veja o mapa das indicações de carência de infra-estrutura no Rio de Janeiro, elaborado pelo jornal O Globo a partir de mensagens de seus leitores.


É uma primeira aproximação, claro. Mas dá para ver como a Zona Norte é percebida por seus moradores.
Na explicitação pública dessa percepção talvez esteja a saída para a cidade: cuidado com a região, relegada ao abandono há décadas.

Veja o mapa em seu contexto original

sexta-feira, 24 de julho de 2009

1942 - Aquarela do Brasil

Lucas Franco
No início da década de 40, dentro da chamada "Good Neighbor Policy" ou Política da Boa Vizinhança, o desenhista Walt Disney em uma turnê pela América Latina criou o papagaio José Carioca, vulgo Zé Carioca, para o filme Alô, amigos (Saludos Amigos), de 1942, lançado nos EUA no ano seguinte pela Disney.

Este trecho, Aquarela do Brasil, conta o encontro do Pato Donald com Zé Carioca, que lhe apresenta a cidade do Rio de Janeiro, cartão postal brasileiro. Disney descreve de forma caricata a personalidade do carioca: malandro, cativante, sambista e cachaceiro. Na paisagem, além da exuberância da natureza, destacam-se o calçadão de Copacabana e o reluzente Cassino da Urca.

É engraçado, pois no último semestre, a discussão sobre o que fazer com as deterioradas calçadas de pedras portuguesas e o destino do antigo cassino da Urca foram dois temas recorrentes na mídia carioca. Entretanto, nos dois casos, me parece que ainda não encontramos um senso comum.
Cada um percebe a cidade da sua maneira.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Arco Metropolitano

Sérgio Magalhães
Começou a ser construída a estrada que passará ao norte da cidade metropolitana do Rio, abaixo das fraldas da Serra do Mar, ligando o Comperj (Complexo Petroquímico da Petrobras, em construção no município de Itaboraí) ao porto de Sepetiba (município de Itaguaí) e ao pólo siderúrgico CSA.

Olhe o mapa: está nítido que se trata de uma obra importante.

O Arco será capaz de retirar das principais avenidas metropolitanas (Avenida Brasil, Presidente Dutra, Washington Luiz, Ponte Rio-Niterói) parte importante da movimentação de cargas e melhorar o fluxo logístico da Região.

Mas, agora, dê outra olhadinha no mapa. Veja como o Arco passa para além da trama urbana (mancha branca). Corretamente, ele se localiza onde há pouca ocupação urbana.

Este desenho acima apresentei em Seminário realizado em 2007, a convite do Governo do Estado. As bolinhas vermelhas indicam as conexões desejáveis entre o Arco e o sistema urbano metropolitano. Isto é, na minha opinião, o Arco tem que ser estanque longitudinalmente, não oferecer entradas e saídas senão em pontos bem determinados. Tal como a Linha Vermelha; não como a Dutra ou a Avenida Brasil, as quais tem marginais que permitem acesso em qualquer ponto.

Mas, no sentido transversal, o Arco precisa ser permeável. Ou seja: deve permitir a continuidade do tecido sobre o qual passa –talvez sobranceiro.

Estanqueidade, para que? Para dificultar a ocupação desses territórios por onde o Arco passará. Essas áreas não tem infra-estrutura, não tem equipamentos, são muito pobres. Se não houver cuidado, elas estarão à mercê da especulação mais cruel, aquela que levará para lá as famílias mais pobres, expandindo as cidades para além da conta, justamente essas cidades que fazem um esforço gigantesco para dotar de infra-estrutura seus bairros mais distantes. Nesses pontos de conexão, sim, será conveniente o acesso para que a implantação de equipamentos seja adequada ao desenvolvimento local.

Permeabilidade, para que? Justamente para que o Arco não rompa os frágeis sistemas viários/hídricos/culturais por onde passa. Assim, quem hoje circula entre esses bairros deverá continuar a fazê-lo sem impedimento, sem exigir-se que entre no leito do Arco Metropolitano, pegue o primeiro retorno, chegue do outro lado, e aí então desça para o bairro que antes estava a poucos metros e ficou a quilômetros...

O Globo de hoje tem uma reportagem com o arquiteto Vicente Loureiro, subsecretário de Obras do Estado, responsável pelo Arco. Aparentemente, Loureiro tem um visão diferente.
Não fica muito clara no jornal, pois a matéria é, merecidamente, laudatória; não é explicativa do projeto. Para mim, permanece a necessidade de mais detalhes.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Aeroportos, arquitetura, etc.

Sérgio Magalhães
O Rio de Janeiro tinha um dos melhores aeroportos do mundo, projetado em 1944 pelos irmãos M.M. Roberto: o Santos Dumont. Simples, em relação direta entre passageiro-avião, seu esquema funcional somente perdia para a elegância de suas linhas arquitetônicas.
Mas, andando na contramão, a Infraero insistiu em transformá-lo em um aero-shopping.

Por que na contramão? Porque, enquanto os novos e melhores aeroportos do mundo buscam a relação mais direta possível entre passageiro-avião, tal como tinha o velho Santos Dumont, a Infraero programa enormes estruturas comerciais como se isso significasse qualidade espacial e funcional.

Hoje, O Globo publica artigo do presidente da estatal, defendendo a reforma do Galeão. O que conseguirá? Aumentar a área de vendas...

A Infraero tem gente, vontade e dinheiro, diz o presidente, o que motiva a empresa é o compromisso com o passageiro. Ótimo. Mas, pouco depois, continua: Novos sanitários, pisos, forros, elevadores e escadas rolantes são apenas parte do novo Galeão. (...) Quem freqüenta o Galeão quer mais: um restaurante classe A, um fast sleep, uma variedade de bancos. E ainda: Haverá uma expansão do terminal e conseqüentemente de diversos espaços comerciais em todos os andares, com implantação de lojas de varejo, alimentação e serviços, somando-se ao “mall” já existente.É verdade que está sendo reformado. É mais granito e mais alumínio –sem design, sem uma refuncionalização, esta sim, a mais desejada.

É triste constatar que o Galeão (Terminal 1), que há trinta anos é um edifício arcaico, mal concebido, feio, conseguiu ser ampliado (Terminal 2) ficando ainda pior. E, agora, tem tudo para descer alguns degraus na escala de qualidade arquitetônica.
O que faz com que nossos aeroportos brasileiros tenham essa sina, justamente depois de início tão promissor, como foi com o Santos Dumont e o Salgado Filho (Porto Alegre)?

Notícias relacionadas:
AU - Vejo o Rio de Janeiro
Finestra - Obra recupera Aeroporto Santos Dumont


sábado, 11 de julho de 2009

Cidades Muradas

Lucas Franco
Em recente artigo para a revista Página 22, o arquiteto Sérgio Magalhães destaca um ponto positivo em toda essa história sobre a construção dos muros em volta das favelas:

“É possível que o debate sobre os muros no Rio ajude a construir uma agenda para os municípios brasileiros, onde falta democracia e sobra segregação”

Logo nos primeiros parágrafos, enquanto apresenta os fatos, deixa claro o seu ponto de vista:

“O governo diz que o objetivo é conter a derrubada da floresta. As críticas são de que muros têm forte e indissociável simbolismo de segregação.

Não é uma questão simples. Envolve a percepção de que a violência urbana se expande e se consolida, a estigmatização das favelas como matriz da desordem e, sobretudo, o estranhamento à diversidade, crescente entre nós.

Pela abrangência (apenas Zona Sul) e circunstâncias (violência), o tema leva a pensar que se trata de uma resposta semiológica, de ordem simbólica, a uma questão política.”

Leia o artigo na íntegra

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Rio em movimento

Lucas Franco
A cidade do Rio de Janeiro, também conhecida como Cidade Maravilhosa, é uma das mais famosas do mundo. A imagem reconhecida internacionalmente é a de uma natureza exuberante associada a exemplos significativos da intervenção humana, como o Cristo Redentor, o bondinho do Pão de Açúcar e o calçadão de Copacabana.

Ao longo do séc. XX, a cidade passou por importantes transformações urbanísticas como o desmanche dos morros do Castelo e de Santo Antônio, os aterros do Flamengo e a abertura da Av. Central e ainda serviu de cenário para a construção de belos exemplares de arquitetura como o Teatro Municipal, o Palácio Gustavo Capanema e o MAM.

Gostaria de convidá-los a uma instigante viagem: analisar a cidade em quatro dimensões através de vídeos ao longo dos tempos, particularmente sob o olhar do estrangeiro e assim, tentar perceber as transformações da paisagem, dos valores e dos ícones formadores da identidade carioca.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

“City of Splendour”

Lucas Franco
Neste primeiro vídeo, de 1936, produzido pelos estúdios MGM, o Rio é retratado como uma cidade de vanguarda, muito bem cuidada e moderna. Destacam-se a infra-estrutura urbana, os novos canais, as calçadas com mosaicos de pedras portuguesas e a recente abertura da Avenida Central além do já demolido Palácio Monroe.
Do ponto de vista social, o narrador chama a atenção para a convivência pacífica entre negros e brancos, enaltecendo a diversidade racial brasileira.

Enfim, um verdadeiro colírio para os olhos em uma viagem emocionante a um Rio Antigo deslumbrante.

Outro dia, em uma entrevista para a revista VEJA, o prefeito Eduardo Paes confessou:
- Eu faço parte de uma geração de cariocas que não conheceu o Rio como Cidade Maravilhosa.

Apesar de pertencer a uma geração mais recente que a do nosso atual prefeito, eu não compartilho da mesma opinião. Entretanto, assistindo a essas imagens (e parafraseando a música de Caetano sobre os americanos) me parece inevitável que os cariocas sintam que algo se perdeu, algo se quebrou, está se quebrando.

sábado, 4 de julho de 2009

Natureza na Cidade

Sérgio Magalhães
Olha aí outro tema importante: Conférence Nationale de Lancement Nature en Ville, que se realiza em Paris. Todavia, também aqui parece que a cidade é tratada como se fosse algoz da natureza.
A cidade destrói a natureza?
Sim, ela causa abalos monumentais, por exemplo, quando uma grande cidade abriga milhões de pessoas que vivem sem saneamento adequado, e as águas são degradadas (lembram alguma metrópole assim?); com a expansão da ocupação urbana que não observa valores ambientais; e a própria expansão sem limites.

Mas o que está no foco de alguns participantes desta Conferência, é o verde, os sistemas paisagísticos, a arborização urbana, etc.
Esta foto é do livro Composer avec la nature en ville, mostrando o contraste entre cidade e natureza.
Mas a natureza é representada por hortas, como se fosse natureza. Por que essa confusão? Desde quando a horta, tal como a cidade, não é simplesmente “cultura”? Desde quando “agricultura”é natureza?
Por que um edifício, que precisa de terreno para subir, que precisa de materiais naturais, ou materiais artificiais (como na plantação se usa trator, plásticos para o sombreamento, adubos), que também se relaciona com a luz solar, com as águas, o clima, não é visto do mesmo modo? Obra do homem, ambos. Construção fruto da história.

Sim, vamos batalhar pela integração do verde na cidade –mas compreendendo que eles não se opõem.
Aliás, é simplesmente a cultura que inseriu a arborização, o paisagismo, a jardinagem nas áreas públicas da cidade –e isso, entre nós, tem apenas menos de 200 anos!
Cidade e verde, já agora, são uma única “natureza”, ou, se quisermos, uma única “cultura”.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sobre centros e centralidades (ainda)

Sérgio Magalhães
A Exposição Mundial realizada em Lisboa, Expo 98, foi saudada à ocasião pelo acerto de sua localização e plano urbano. Comparativamente à Expo de Sevilha, realizada poucos anos antes, foi um avanço. Na espanhola, escolheram um lugar ‘isolado’ e vazio; já em Lisboa, aproveitou-se uma área decadente, quase em abandono. Foi um sucesso.
Projetos como o de Siza Vieira, para a “tenda”, e o de Calatrava, para a estação de trem/metrô, são ícones dessa Expo e serviram para dar prestígio ao lugar.
Desde então, a área tem se desenvolvido muito bem, como um bairro habitacional, comercial e de serviços, onde o desenho urbano tem mais contemporaneidade do que modernismo. (Mas ainda tem algum...)
Agora, pelo que se sabe, as coisas estão tomando um rumo perigoso: projetam transferir para a área da Expo 98 ministérios que hoje se localizam no Centro de Lisboa, em especial na Baixa Pombalina e na Ribeira.
Se isso prosperar, tem tudo para ajudar a esvaziar o centro. E, depois, nossos copatrícios, terão que correr atrás do prejuízo, com uma “revitalização” à base do turismo do Patrimônio.

Quem sabe a crise, que também atingiu Portugal, empurra esse desatino para bem depois que retornar o bom senso?