domingo, 26 de abril de 2009

Ainda sobre os muros

Falando e tentando contribuir para o debate sobre os muros, a primeira coisa que me vem à cabeça é: o muro que se pretende construir é um projeto para solucionar que problema?
Segundo o Ícaro, também meu amigo desde 1998 quando fui trabalhar na Prefeitura do Rio, o muro tem como objetivo de servir de proteção a um bioma ameaçado. Outra pergunta: murar é a melhor solução para o problema bioma ameaçado?
Li nos jornais outras propostas como a de uma cerca viva, com indicação de espécies apropriadas. Lembrei-me de um projeto que conheci no Equador, criação de grupos de jovens para proteger determinados biomas. E também, presença do Estado assegurando os serviços necessários ao cidadão. Sabemos que muitas soluções propostas acabam gerando inúmeros outros problemas e você falou isso no seu texto.
Em áreas de grande declividade como o Morro Dona Marta a construção do muro pode gerar novos problemas ambientais. No caso, poderia causar a desestabilização das encostas, acelerar processos erosivos e ocasionar danos ambientais, cujas conseqüências são imprevisíveis. Sobre esse aspecto vale à pena consultar, se ainda não foi feito, a Universidade, os geomorfólogos são indicados para isso. Devido às topografias peculiares, seria prudente ter o parecer dos técnicos das Secretarias de Meio Ambiente do Estado e do Município sobre tais riscos em cada área.
Do ponto de vista social, penso que no momento em que o Rio encontra-se tão dilacerado pelos impactos provocados pela falta de elementos agregadores de sua diversidade, talvez fosse mais oportuno re-pensar a proposta trazendo à discussão elementos que agreguem e não isolem; que levem ao encontro e não a indiferença, que facilitem o compartilhar e não a separação.
Creio que há um outro ponto a ser visto que é o de se assegurar a efetividade do projeto; se está bem focalizado, se de fato é uma solução inteligente, avaliar as suas conseqüências (sociais, econômicas, políticas, ambientais) hoje e no futuro e, principalmente, se vale realmente gastar recursos com ele.
De qualquer forma a proposta desperta opiniões aquece o debate. É evidente que os problemas não são simples, a complexidade está presente e merece uma nova atitude - abrindo-se ao diálogo e as contribuições da sociedade.

Tenho certeza que estas reflexões serão importantes para os que formularam e para todos os envolvidos, sujeitos internos e externos da ação e para os que se interessam pela cidade.

[Por Tereza Coni]

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