quarta-feira, 29 de abril de 2009

Eleita a vilã dos espaços públicos cariocas: a pedra portuguesa

Alguns amigos irão pegar no meu pé achando que esta defesa em relação às simpáticas pedrinhas tem algo com meu declarado interesse pela Terrinha... mas neste caso, não!
Já que aqui no blog se falou tanto em ‘sombra do alvo’ me parece que estamos falando de algo similar.
A pedra portuguesa começou a ser utilizada em meados do século XIX (Wikipédia) em Lisboa e de lá pra cá é usada com maestria pelos nossos irmãos. Não há cidade em Portugal que não as tenha. E em ótimo estado de conservação (claro que haverá exceções, mas garanto que poucas). Também no Rio, encontramos importantes áreas com execução de qualidade e boa manutenção, em geral na Zona Sul.
Se tanto lá como cá é possível encontrá-las bem conservadas, por que excluir as pedras portuguesas dos espaços públicos? Visitem a eleição dos melhores espaços do Rio aí ao lado, vejam quantos deles possuem as pedrinhas na sua escolha.
Os argumentos contra as pedras são a dificuldade de manutenção e falta de mão de obra.
De fato, o problema é outro: é de gestão do espaço público e insuficiente capacitação de mão de obra.
Por que concessionárias de serviços públicos, como a CEDAE, CEG, CET-RIO, OI, são incapazes de finalizar suas intervenções no pavimento com qualidade?
Por que a Prefeitura não faz o controle devido? Por que não forma a mão de obra necessária?
Por que as grandes construtoras investem tão pouco em formação de seus quadros técnicos?
Em um momento em que o país acelera seu crescimento temos que pensar: crescemos como? Com qualidade? Formando quadros? Ou crescem apenas as contas bancárias das empreiteiras, políticos e caixas de campanha?

Esta história das pedrinhas portuguesas me parece àquela do marido traído que ao encontrar a mulher com o amante no sofá da sala... troca o sofá.



Leia artigo do Prof. Cristóvão Duarte, no Globo online, falando do mesmo assunto e explicando as diversas vantagens da calçada portuguesa.

Fonte das fotos

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Encruzilhada.


O Globo, em reportagem de Dimmi Amora, Fora da Linha e Sem Rumo, nos diz como é lento o ritmo das "melhoras" do sistema de trens suburbanos.
Mas o impressionante é a foto da estação de São Cristóvão. Ela mostra claramente o desrespeito ao passageiro e a falta de conforto.
São Cristóvão é a única estação de todo o sistema onde há conexão entre as três linhas de trens: Leopoldina, Auxiliar e Central do Brasil. Isto é, onde é possível sair de uma linha e pegar outra.
Reparem na foto: os passageiros precisam subir e descer escadas fixas com altura equivalente a 3 andares! Não há escadas rolantes, não há elevador, não há sequer telhadinho que evite a chuva e o sol.
No ano de 2009, em uma das mais importantes cidades mundiais, é possível uma situação como essa?
Sim, não apenas ocorre em São Cristóvão, como em quase todas as demais estações do sistema operado pela Supervia.
É por essas e por outras que, com o abandono da Zona Norte, o Rio se encontra em uma encruzilhada: ou recupera os seus subúrbios, onde moram milhões de cariocas, ou pode dar adeus a um futuro de qualidade.

Imperdível! Para quem gosta de cidade.

A exposição itinerante “A rua é nossa... é de todos nós!” é uma extraordinária síntese sobre a condição urbana, pensada a partir do quotidiano, das ruas. É uma promoção do Institut pour la Ville en Mouvement, sob a direção de François Ascher e Mireille Apel-Muller, e se inclui entre as atividades relativas ao ano da França no Brasil.
Inaugurada em Paris em 2007, já percorreu cidades como Xangai, Montreal, Buenos Aires, Pequim, entre outras.
Aqui, sob a curadoria da professora Margareth da Silva Pereira, do PROURB e da FAU/UFRJ, a exposição é enriquecida com uma visão brasileira. Destaque para fotografias do Rio de Janeiro, em nível compatível com a altíssima qualidade do conjunto francês.
Vale muito visitar o Centro Cultural da Justiça Federal, antigo prédio do Supremo Tribunal de Justiça, na Cinelândia, Rio, até o dia 14 de junho. Confira a programação de eventos paralelos, como filmes, vídeos, debates e “passeios exploratórios” a pontos de interesse do centro do Rio.

domingo, 26 de abril de 2009

Sobre quereres

E se os muros nas favelas da Zona Sul forem apenas um item no rol do poder?
Se estiverem desconectados de uma política de segurança ou de meio ambiente e até mesmo de uma reação semiológica às dificuldades na sua implantação? Se forem, apenas e simplesmente, um desejo de quem pode?
Quero porque quero.
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Indagado sobre o motivo pelo qual dizia “qüestão” (com trema) ao invés de “questão”, respondeu o dr. Mauro:
-Porque qüero.

Ainda sobre os muros

Falando e tentando contribuir para o debate sobre os muros, a primeira coisa que me vem à cabeça é: o muro que se pretende construir é um projeto para solucionar que problema?
Segundo o Ícaro, também meu amigo desde 1998 quando fui trabalhar na Prefeitura do Rio, o muro tem como objetivo de servir de proteção a um bioma ameaçado. Outra pergunta: murar é a melhor solução para o problema bioma ameaçado?
Li nos jornais outras propostas como a de uma cerca viva, com indicação de espécies apropriadas. Lembrei-me de um projeto que conheci no Equador, criação de grupos de jovens para proteger determinados biomas. E também, presença do Estado assegurando os serviços necessários ao cidadão. Sabemos que muitas soluções propostas acabam gerando inúmeros outros problemas e você falou isso no seu texto.
Em áreas de grande declividade como o Morro Dona Marta a construção do muro pode gerar novos problemas ambientais. No caso, poderia causar a desestabilização das encostas, acelerar processos erosivos e ocasionar danos ambientais, cujas conseqüências são imprevisíveis. Sobre esse aspecto vale à pena consultar, se ainda não foi feito, a Universidade, os geomorfólogos são indicados para isso. Devido às topografias peculiares, seria prudente ter o parecer dos técnicos das Secretarias de Meio Ambiente do Estado e do Município sobre tais riscos em cada área.
Do ponto de vista social, penso que no momento em que o Rio encontra-se tão dilacerado pelos impactos provocados pela falta de elementos agregadores de sua diversidade, talvez fosse mais oportuno re-pensar a proposta trazendo à discussão elementos que agreguem e não isolem; que levem ao encontro e não a indiferença, que facilitem o compartilhar e não a separação.
Creio que há um outro ponto a ser visto que é o de se assegurar a efetividade do projeto; se está bem focalizado, se de fato é uma solução inteligente, avaliar as suas conseqüências (sociais, econômicas, políticas, ambientais) hoje e no futuro e, principalmente, se vale realmente gastar recursos com ele.
De qualquer forma a proposta desperta opiniões aquece o debate. É evidente que os problemas não são simples, a complexidade está presente e merece uma nova atitude - abrindo-se ao diálogo e as contribuições da sociedade.

Tenho certeza que estas reflexões serão importantes para os que formularam e para todos os envolvidos, sujeitos internos e externos da ação e para os que se interessam pela cidade.

[Por Tereza Coni]

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Será uma onda?

Muros: e segue o baile.

De Madri, nossa “correspondente” VA informa que o muro nas favelas da Zona Sul do Rio esteve na berlinda durante congresso internacional sobre desenvolvimento humano, intitulado Cidade Sustentável e os Desafios da Pobreza Urbana, realizado na capital espanhola, há poucos dias.
Julian Salas, que dirige mestrado na Universidade Politécnica de Madri, criticou duramente a medida, incluindo na crítica tanto o presidente Lula quanto os governos do Estado e do Município. Para o professor, os muros são construídos para privilegiar áreas ricas. Reclamou também pela ausência de debate, perguntando “por onde andam os pensadores da cidade?”

Por aqui, a jornalista Heloisa Magalhães, chefe de Redação do “Valor Econômico”, ajuda a construir um quadro crítico, opinando em artigo sob o título: Muro: resposta à violência. Diz HM: "Não há dúvida que o assunto é complexo, divide opiniões especialmente pelo simbolismo isolacionista que o muro traz."

Seria ótimo se a polêmica ajudasse a construir uma agenda para a nossa cidade. Isto é, que dela se espraiasse uma onda renovadora, como as que apareceram estes dias pelas praias cariocas.

Artigo de HM:http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/4/23/muro-resposta-a-violencia

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Desta vez a ZN vai!

Mais um artigo assinado pelo jornalista Ali Kamel, do Globo, aborda a necessidade da transformação dos trens em metrô e do investimento melhor distribuído na cidade.
Considera a Zona Sul já bem servida, demandando manutenção, o que pode dispensar novos grandes investimentos, como a anunciada garagem subterrânea na orla de Ipanema.

“Temos de parar de gastar onde não é preciso, esquecer Engenhões, Cidades da Música, Zona Sul, e nos concentrarmos no que muda uma cidade.”

Oxalá!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Mi Casita

Lá por meados do século passado, quando a questão habitacional aflorou nas cidades que se expandiam com a industrialização, eram populares umas publicações que apresentavam projetos variados como sugestão para a construção de casas. Plantas, cortes, fachadas e especificação básica faziam parte de cada uma das sugestões. Entre essas publicações, Mi Casita era das mais requisitadas.
Algumas décadas antes, também Lucio Costa, então jovem arquiteto, entrou no ramo, com sugestões para moradia.
Vira o século, e o nosso governo se apresenta ao mundo com o plano de redução do déficit habitacional, consagrando dois modelos: uma casa com 35m2 e um edifício, com apartamentos de 42m2. Como somos democráticos, os modelos servirão para todo o país, indistintamente.
Tem razão o nosso Lucas Franco, na nota precedente, em desabafo de jovem arquiteto idealista, sabedor de que a arquitetura é um instrumento para melhorar a vida das pessoas.

Queremos a Constituição!

Quanto mais os defensores proclamam que o objetivo dos muros em favelas da Zona Sul é evitar o desmatamento, mais me reforça a convicção de que há um objetivo oculto, maior do que esse proclamado: sinalizar que o governo está atuante.Mas por que o governo precisa dessa sinalização?
Como o governo –por razões que se somam- não consegue impor uma política de retomada de territórios e permanência do Estado nas áreas dominadas pelos traficantes ou por milícias, passa a apelar para a comunicação indireta. Os muros são apenas isso.
Não fossem, as soluções lembradas pelo arquiteto Janot, no Globo, teriam sido consideradas antes do anúncio dos muros. São propostas de bom senso, que fazem parte do repertório de limitação reconhecido e utilizado em inúmeras situações. Outros articulistas também se manifestaram assim, como o fez Elio Gaspari.

Ademais, não podemos deixar de considerar que os muros se apresentaram a reboque das batalhas entre bandidos que ocorreram na Ladeira dos Tabajaras, com repercussão na Fonte da Saudade e adjacências, e reflexos, a seguir, na Rocinha.Nesse sentido, os muros também atuariam como uma ação diversionista, útil para substituir o impacto negativo das semanas precedentes.

No entanto, na polêmica, fica evidente uma questão que me parece muito grave.
Trata-se de um movimento que conduz ao retorno da estigmatização da favela, sobretudo as da Zona Sul, como lugar pernicioso à vida civilizada.
Ora, isso é de um simplismo absurdo; sobretudo, é uma enorme injustiça.

O Rio de Janeiro está se esboroando sob uma crise urbana de décadas –e passa a atribuir seus problemas aos seus pobres.

Mas é o Estado brasileiro, perfeitamente apropriado pelas elites políticas, econômicas e sociais, que tem se mostrado incapaz de proteger centenas de milhares de cidadãos que estão sob jugo da bandidagem, não apenas em sua integridade física, mas também nas relações econômicas, políticas e sociais do quotidiano. O Estado é ou omisso ou inoperante. De qualquer modo, é incapaz de se fazer valer em imensos territórios metropolitanos, cada vez mais disponíveis para a implantação das leis autoritárias dos grupos armados, gangues e milícias.

Precisamos de um Movimento pela Constitucionalização!
Queremos a Constituição brasileira vigorando plenamente em toda a Cidade!
É daí que poderemos esperar a redução da violência e o enfrentamento da crise urbana.

sábado, 18 de abril de 2009

Minha Casa, Minha Vida

Minha Casa, Minha Vida é um programa do governo federal, em parceria com estados, municípios, empresas e movimentos sociais que pretende construir 1 milhão de novas casas e apartamentos para a população.
Em sua cartilha oficial, divulgada na internet, logo na especificação do empreendimento para o primeiro grupo a ser contemplado (famílias com renda até 3 salários mínimos) me surpreendi com a apresentação de uma das exigências: a padronização das tipologias.
O simples fato da padronização já seria altamente questionável em um país continental como o Brasil. Um projeto que ignora o sítio, a implantação, as diversidades das técnicas construtivas, dos materiais, do clima, da cultura...das pessoas. E mais, teremos um milhão de casas idênticas?
Não foram pesquisadas ou discutidas novas soluções técnicas, novos materiais, que minimizassem os custos e os prazos de construção, que facilitassem a manutenção ou melhorassem o conforto térmico, acústico e visual das edificações?
E quanto à expansão, ao tempo? Essas famílias não pretendem crescer, se modificar ao longo dos anos? Qual é a perspectiva de “envelhecimento” dessas edificações?

Como não são citados, desconheço os autores dos projetos de arquitetura, da existência de concursos públicos e/ou da formação de parcerias entre o governo e as faculdades federais de arquitetura com essa finalidade.

Afinal, como estudante, acredito no ensaio, tentativa e erro, nas críticas e sugestões em busca do desenvolvimento de todo e qualquer projeto.
Como arquiteto, acredito nos benefícios incalculáveis proporcionados por uma boa solução arquitetônica.

A Minha Casa e a Minha Vida foram feitas com arquitetura e é isso o que eu proponho para todos os brasileiros.

Baixe aqui a cartilha do programa

Leia as notas anteriores relacionadas ao tema:
Estímulo à produção de moradias
1 milhão de moradias financiadas
PAC - Oportunidade para a revisão de uma estratégia urbanística

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Trincheira, casamata e torre

O antropólogo Roberto da Matta aderiu ao debate sobre a construção de muros em favelas da Zona Sul, com artigo que O Globo publica hoje.

" Antes de realizar tal monumento à sacralização da desigualdade em escala estupidamente grandiosa, vale a pena pensar numa coisa óbvia. Todo muro tem dois lados. Do lado de lá, ele vai servir de trincheira, casamata e torre para os que se aproveitam da pobreza 'criminosamente' e não apenas pelo voto ".

Destaco as expressões trincheira/casamata/torre, na mesma linha que adotei no artigo publicado pela Folha de SP, dia 13.Vale a pena ver o artigo completo de Roberto da Matta:

O problema do muro no Brasil

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Brasil: Proteger Mata Atlântica com muros é uma "vergonha ambiental" - ecologista

A discussão continua, e expandido-se além mar. Veja a recente reportagem publicada na Lusa, Agência de Notícias de Portugal, com as opiniões do ecologista Vilmar Berna e do arquiteto, urbanista e nosso colaborador Marat Troina.

Leia a reportagem

terça-feira, 14 de abril de 2009

Muros polêmicos

No debate que está colocado sobre a construção de muros em favelas da Zona Sul, a Folha de São Paulo fez uma pesquisa, publicada ontem, acompanhada de dois artigos de opinião. Chamou o que escrevi de "contra". E chamou de "a favor" ao artigo assinado por Ícaro Moreno, prezado amigo desde os tempos da Prefeitura, que atualmente é presidente da Emop, responsável pela construção dos muros.

O Jornal O Globo repercutiu hoje a matéria, inclusive entrevistando o Ícaro, mas omitiu a outra opinião...


Confira:

O artigo de Sérgio Magalhães

O artigo de Ícaro Moreno

A reportagem completa na Folha de São Paulo

A reportagem no jornal O Globo

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O outro caminho

O economista peruano Hernando de Soto tem sido louvado por Francis Fukuyama, Margaret Thatcher, Milton Friedman, e Bill Clinton, e viaja pelo mundo disseminando sua idéia central: que governos em desenvolvimento e países em transição devem prover títulos de propriedade da terra para os assentamentos informais, para desencadear o poder da propriedade da terra como caminho para o desenvolvimento econômico. (...)
(...) Porém, o professor visitante do Lincon Institute, Edesio Fernandes, pergunta: a solução de De Soto é excessivamente simplista?
Pesquisa sugere que muitos dos títulos concedidos fracassam no objetivo de dar acesso ao crédito, diz Fernandes. Títulos de posse e legalização não conduzem, automaticamente, à regularização, à consolidação e sustentabilidade destes assentamentos ou, à redução da pobreza, a menos que governos dêem seqüência com infra-estrutura, educação e outros serviços. (...)

Leia na íntegra o artigo traduzido

Leia o artigo original em inglês no Weblog do Lincoln Institute

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Olha a ZN de novo!

A Zona Norte acaba de ganhar mais um aliado de peso: o jornalista Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo. Em sua coluna no jornal O Globo, AK defende a prioridade para a transformação dos trens suburbanos em metrô, de modo a que a Zona Norte volte a ser lugar atraente para moradia.
Na avaliação de Kamel, é mais importante para a cidade este projeto do que a anunciada Linha 4 do metrô (Zona Sul-Barra).
No mesmo artigo, AK também aborda a questão de remoção de favelas. Mas aí já é outra história (embora, evidentemente, interligadas) ...

Leia o artigo de Ali Kamel para o jornal O GLOBO

sábado, 4 de abril de 2009

Zona Norte é a vencedora

No triste campeonato do abandono, a Zona Norte tem a primazia.

A notícia recolhida por PF, atentíssimo pesquisador sobre a nossa cidade, não é animadora. Mas já começa a se constituir uma consciência coletiva que será capaz de reverter esse quadro.
Pelo menos, é a nossa esperança.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Expansões e Limites

No momento em que se estabelecem os territórios das campanhas eleitorais, as novas opções de linhas do sistema de transporte metroviário e os confinamentos de moradores são temas de interesse urbanístico e arquitetônico que ocupam a mídia e preocupam as mentes de governantes e cidadãos. Na perspectiva desta semana, São Paulo aparece como o paraíso iluminado e o Rio é o inferno escaldante. Cabral e o sucessor de Serra são, respectivamente, o judas e o santo-salvador. Assim, a imprensa carioca prossegue denunciando as contradições do nosso governo estadual para privilegiar as maravilhas da prefeitura e dos maiores mandatários paulistas.
Quanto ao atendimento de todos moradores por todos os modos de transporte, não há o que discutir: o direito é amplo e inegável! No outro sentido, é óbvio que os desejos de adensamento e de ocupação vertical das terras e ares “livres” nas vertentes da Zona Sul do Rio há muito seguem as orientações das políticas de governo e os estímulos de redes informais. Um exemplo: a criação do Parque da Catacumba na Lagoa sempre foi estigmatizada por se constituir em fato urbanístico resultante da memorável exclusão dos moradores da favela que ali crescia à vista de todos. Ao mesmo tempo, o instigante uso das premissas formais da arquitetura modernista, consagrada no Rio pela ênfase na função social, criou o tipo morfológico de casa com real possibilidade de extensão vertical. Esta solução, que configura o nível do telhado plano e o “terraço voador”, possibilita a sucessiva expansão vertical das lajes nas moradias, o que é impossível no tipo de edifício de apartamentos dos populares conjuntos habitacionais. Em outras capitais, o tipo de cobertura em telhado de duas águas caracteriza os bairros e ocupações espontâneas das antigas periferias. Vide o Recife, com o Alto de Isabel e da Casa Amarela e outros baixios nas vizinhanças da Casa Forte e do Poço da Panela. Os morros de Belo Horizonte e Salvador também poderiam estar assim referenciados. Ali, ninguém pensou em muros talvez porque as chácaras já os continham. Mas, certamente, nestas cidades, como em São Paulo, as balas perdidas e outras variedades ilícitas de mercadorias estão longe dos bairros da classe média.