terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Êrro de alvo

Edmund Phelps, Nobel de Economia de 2006, avalia que o Rio de Janeiro permanece estagnada, enquanto São Paulo cresce cada vez mais. Para ele, a estagnação se evidencia com “uma pobreza cada vez mais visível nas favelas”. O Globo, 18jan09

O que para Phelps é o aumento da pobreza nas favelas poderá ser entendido como um aumento das áreas degradadas na cidade. De fato, não aumentou a pobreza nas favelas, isto é cientificamente mensurável. Aumentou a deterioração do tecido urbano, não porque as favelas estejam crescendo, mas porque a cidade legal está se esboroando, sem vitalidade econômica, sem bom transporte, sem segurança, com edifícios abandonados. Este quadro ocorre mais fortemente na Zona Norte suburbana, onde moram 3 milhões de cariocas, e onde se localizava a maior parte das indústrias. Aliás, a ZN é a primeira e a última a ser percebida por quem chega e por quem sai do Rio de Janeiro.

O arrasamento dos subúrbios resulta sobretudo de erros urbanísticos estratégicos desde o tempo de Estado da Guanabara, como a expansão estimulada para o Oeste e a canalização de recursos públicos para a construção de nova centralidade carioca localizada na Barra da Tijuca. Com o evidente esvaziamento do Centro –que é da cidade e também da metrópole.

É cada vez mais crucial a escolha certa de cada ação pública. Sem uma política clara de desenvolvimento, as ações servem à dispersão dos esforços coletivos.
A questão da violência, por exemplo. A vitória da civilidade sobre a bandidagem se dará com a legalidade retomando os territórios da anomia, e aí permanecendo. O foco, portanto, é a permanência, não é a incursão. Retomar e permanecer já agora é uma preliminar absoluta para a recuperação da cidade.

Enquanto esse tempo não chega, a mira precisa ser ajustada ao alvo. Não dá para continuarmos mirando na sombra do alvo. A favela é a sombra do alvo. Apontando para a favela, continuamos a desconsiderar as verdadeiras causas da estagnação e da decadência. Teremos que escolher bem neste ínterim. Mas, com certeza, a recuperação da Zona Norte suburbana precisa estar no centro do alvo.

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